Wednesday, May 19, 2010

Prólogo

O calor era insuportável, eu consegui ouvir as vozes agitadas que gritavam,ensurdecimente, coisas sem sentido. Não era possível identificar as palavras , eu estava ocupada demais olhando a pessoa que me fazia ficar anciosa para ir á escola todos os dias. Ele estava sentado a duas carteiras a minha frente , encostado na parede, com seus cachos loiros e bagunçados sendo amassados pela parede fria e dura , mas minha visão foi interrompida quando o professor passou umas folhas com questões de revisão sobre a Revolução Francesa, eu já tinha perdido as contas de quantas vezes eu tinha visto isso, as aulas de história eram sempre intendentes.
Depois da aula o orientador veio até nossa sala dar algumas orientações sobre o vestibular, essas conversas eram sempre uma tortura,até agora eu não sabia o que prestar e só tinha mais alguns meses para me decidir mas eu nunca me achei madura pra tomar esse tipo de decisão, tão importante.
O sinal finalmente tocou , eu já estava ficando desesperada com aquela conversa, guardei rapidamente os livros na mochila e peguei o fichário, pronta para encarar o corredor cheio de alunos, era difícil andar ali, senti algo esbarra em mim, mas não pude ver o que era, eu apenas perdi o equilíbrio rapidamente e cai levando comigo meus livros, senti meu rosto corar dos olhares debochados que eu vinham em minha direção. Me levantei irritada, tentando não pensar no mico, juntei rapidamente algumas coisas que tinha caído da minha mochila mal fechada, quando ouvi uma voz suave e conhecida:
-Quer ajuda?
-Não, obrigada!-Respondia me levantando rapidamente

Era ele, a razão da minha ansiedade, o anjo de cabelos loiros.
Apesar da vergonha, aquilo foi perfeito, ficamos conversando durante todo o percurso, só nos separamos no portão.

Ao chegar em casa eu logo percebi, pela cara da minha mãe, que tinha acontecido alguma coisa, e ao julgar pelo telefone em sua mão ela deveria ter falado com o meu pai. Ele tinha criado uma empresa á um ano atrás e as coisas lá nem sempre iam bem, na verdade, minha vida tinha se tornado um pouco mais difícil. Ela estava furiosa, eu resolvi não perguntar, aquela definitivamente não era a hora, apenas guardei minhas coisas e sentei-me para almoçar. Depois de comer eu fui lavar a louça e estudar, no final da tarde como de costume precisei levar meu cachorro pra rua um pouco.
Até que a tarde não fora tão ruim quanto eu havia imagino, não pelo menos até aquela hora, quando eu voltei da rua, nem deu tempo de abrir totalmente a porta e eu já ouvia passos atrás dela.
- Você não viu que a máquina estava ligada? Não dava pra desligar? Fica ai gastando energia, eu estou me desdobrando para economizar em tudo o que eu posso e não dava pra você desligar a máquina?

“ Respira” – eu pensava

Tudo o que eu conseguir fazer foi falar bem baixo:

- Eu não vi, desculpa...

E depois sai correndo para o meu quarto sem ao menos lembrar que tinha um cachorro pra cuidar, o levei comigo, tudo o que eu queria naquela hora era um lugar calmo para pensar. Peguei o violão no meu quarto, e um pedaço de folha que estava no armário ao lado da cama, não precisei me esforçar para que saísse alguma coisa.

“ I don´t wanna hear,
Anybody screming to me
Sayin’ things, there are no true
I don´t wanna hear,
That was someone’s fault
‘ Cause we all know
Everybody has a part, in this story “


Mas aquelas palavras não me soavam bem, tentei várias vezes muda-las e reorganiza-las para melhorar a letra, mas nunca ficava bom e ai, como sempre eu desisti, deixando daquele jeito mesmo, mudar seria inútil, eu não iria ganhar um grammy com aquilo mesmo.

Os dias seguintes não foram tão insuportáveis , mas eu continuava acordando ouvindo as discussões dos meus pais pela manhã, as palavras nunca eram muito claras, mas eu não precisava entende-las, já era difícil demais sem entende-las. Os meus olhos se fecharam brevemente, e eu perdi a noção do tempo, só me lembro que quando acordei eu já não escutava mais nada, ele já tinha ido, ou pelo menos parecia.

Aquela era a hora para sair do quarto, com uma inspiração profunda, levantei-me. Minha mão encostava brevemente na maçaneta da porta mas eu não tinha coragem o suficiente para virá-la
O dia seguiu de uma maneira inquietante, eu não sentia o tempo passar e não conseguia me concentrar em nada.Cometi mais erros no meu treino de Handebol do que eu geralmente cometia nos testes de matemática.

Ao chegar em casa, o desânimo ainda me dominava, eu tinha tanta coisa pra estudar e lições para fazer, e quanto eu mais pensava nelas mais desânimo dominava o meu corpo, dava vontade de chorar só de pensar em fazer as lições.

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